O que é “a busca” na obra? “a
busca, não é simplesmente um esforço de recordação, uma exploração da
memória: a palavra deve ser tomada em sentido preciso, como na expressão
"busca da verdade”.” “A Recherche se apresenta como a exploração dos diferentes mundos de signos, que se organizam em círculos e se cruzam em certos pontos.”
O que é “o tempo perdido” na obra? “não
é apenas o tempo que passa, alterando os seres e anulando o que
passou; é também o tempo que se perde (por que, ao invés de trabalharmos
e sermos artistas, perdemos tempo na vida mundana, nos amores?).”
O que é “o tempo redescoberto” na obra? “um
tempo que redescobrimos no âmago do tempo perdido e que nos revela a
imagem da eternidade; mas é também um tempo original absoluto,
verdadeira eternidade que se afirma na arte.” [...] “a obra de arte é o
único meio de redescobrir o tempo perdido."
O que é “aprender” na obra? “Aprender diz respeito essencialmente aos signos.” [...] “Aprender
é, de início, considerar uma matéria, um objeto, um ser, como se
emitissem signos a serem decifrados, interpretados.” [...] “A obra de
Proust é baseada não na exposição da memória, mas no aprendizado dos
signos.”
Qual o resultado essencial do aprendizado? “há verdades a serem descobertas [no] tempo que se perde.”
O que são “signos” na obra? “Os signos são específicos e constituem a matéria desse ou daquele mundo.”
1º mundo: signos mundanos. “a
tarefa do aprendiz é compreender por que alguém é "recebido" em
determinado mundo e por que alguém deixa de sê-lo; a que signos obedecem
esses mundos e quem são seus legisladores e seus papas.” [...] “Não se
pensa, não se age, mas emitem-se signos.” [...] “O signo mundano não remete a alguma coisa; ele a "substitui", pretende valer por seu sentido.” [...] “O aprendizado seria imperfeito e até mesmo impossível se não passasse por eles.”
2º mundo: signos do amor. “Apaixonar-se
é individualizar alguém pelos signos que traz consigo ou emite. É
tornar-se sensível a esses signos, aprendê-los.” [...] “Não podemos
interpretar os signos de um ser amado sem desembocar em mundos que se
formaram sem nós, que se formaram com outras pessoas, onde não somos, de
início, senão um objeto como os outros.” [...] “A contradição do amor
consiste nisto: os meios de que dispomos para preservar-nos do ciúme são
os mesmos que desenvolvem esse ciúme, dando-lhe uma espécie de
autonomia, de independência, com relação ao nosso amor.” [...] “os
signos amorosos são signos mentiroros que não podem dirigir-se a nós
senão escondendo o que exprimem, isto é, a origem dos mundos
desconhecidos, das ações e dos pensamentos desconhecidos que lhes dão
sentido.” [...] “Era uma terra incógnita terrível a que eu
acabava de aterrar, uma fase nova de sofrimentos insuspeitados que se
abria. E, no entanto, esse dilúvio da realidade que nos submerge, se é
enorme a par de nossas tímidas e ínfimas suposições, era por elas
pressentido.” [...] “O mundo do amor vai dos signos reveladores da
mentira aos signos ocultos de Sodoma e Gomorra.”
3º mundo: as qualidades sensíveis ou impressões. “estes
signos já se distinguem dos precedentes por seu efeito imediato.” [...]
“São signos verídicos, que imediatamente nos dão uma sensação de
alegria incomum, signos plenos, afirmativos e alegres.” [...] “o sentido
material não é nada sem uma essência ideal que ele encarna.”
4º mundo: signos da arte. “os signos da arte são os únicos imateriais.” E capazes de “revelar” a essência de cada um (no caso, do sujeito-artista).
Concluindo. “os
signos mundanos, principalmente os signos mundanos, mas também os
signos do amor e mesmo os signos sensíveis, são signos de um tempo
"perdido": são os signos de um tempo que se perde. Pois não é
muito sensato freqüentar a sociedade, apaixonar-se por mulheres
medíocres, nem mesmo despender tantos esforços de imaginação diante de
um pilriteiro, quando melhor seria conviver com pessoas profundas, e,
sobretudo, trabalhar.”
Sobre a verdade. “Na
verdade, “Em Busca do Tempo Perdido” é uma busca da verdade.” [...] “O
ciumento sente uma pequena alegria quando consegue decifrar uma mentira
do amado, como um intérprete que consegue traduzir um trecho
complicado, mesmo quando a tradução lhe revela um fato pessoalmente
desagradável e doloroso.” [...] “Proust não acredita que o homem, nem
mesmo um espírito supostamente puro, tenha naturalmente um desejo do
verdadeiro, uma vontade de verdade. Nós só procuramos a verdade quando
estamos determinados a fazê-lo em função de uma situação concreta,
quando sofremos uma espécie de violência que nos leva a essa busca.”
[...] “Há sempre a violência de um signo que nos força a procurar, que
nos rouba a paz.” [...] “Falta necessidade às verdades intelectuais.”
Crenças impedem o aprendizado. “1ª:
[objetivismo é] atribuir ao objeto os signos de que é portador.” [...]
“Pensamos que o próprio ‘objeto’ traz o segredo do signo que emite.”
[...] “Relacionar um signo ao objeto que o emite, atribuir ao objeto o
benefício do signo, é de início a direção natural da percepção ou da
representação. Mas é também a direção da memória voluntária, que se
lembra das coisas e não dos signos. É, ainda, a direção do prazer e da
atividade prática, que se baseiam na posse das coisas ou na consumação
dos objetos. E, de outra forma, é a tendência da inteligência.”; 2ª: “o
herói se esforça para encontrar uma compensação subjetiva à decepção
com relação ao objeto.”
Sobre a essência. “é
uma diferença, a Diferença última e absoluta.” [...] “Não é uma
diferença empírica, sempre extrínseca, entre duas coisas ou dois
objetos. Proust nos dá uma aproximação da essência quando diz que ela é
alguma coisa em um sujeito, como a presença de uma qualidade última no
âmago de um sujeito: diferença interna, “diferença qualitativa decorrente
da maneira pela qual encaramos o mundo, diferença que, sem a arte,
seria o eterno segredo de cada um de nós’.” [...] “Qualidade
desconhecida de um mundo único." [...] “A essência não é apenas
individual, é individualizante."
Memória voluntária. “A
memória voluntária vai de um presente atual a um presente que ‘foi’,
isto é, a alguma coisa que foi presente e não o é mais.” [...] “essa
memória não se apodera diretamente do passado: ela o recompõe com os
presentes.”
Memória involuntária. “interioriza
o contexto, torna o antigo contexto inseparável da sensação presente.”
[...] “o essencial na memória involuntária não é a semelhança, nem mesmo
a identidade, que são apenas condições; o essencial é a diferença
interiorizada, tornada imanente.” [...] “A lembrança involuntária retém
os dois poderes: a diferença no antigo momento e a repetição no atual.”
A matéria em que o signo é inscrito. “Os
signos mundanos são mais materiais por evoluírem no vazio. Os signos
amorosos são inseparáveis da força de um rosto, da textura de uma pele,
da forma e do colorido de uma face: coisas que só se espiritualizam
quando a criatura amada dorme. Os signos sensíveis também são qualidades
materiais, sobretudo os aromas e sabores. Somente na Arte é que o signo
se torna imaterial, ao mesmo tempo que seu sentido se torna
espiritual.”
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